Aqui são 15:40, só resta eu trabalhando no departamento então decidi partir pro ócio-criativo da semana, já que está chovendo e hoje pela primeira vez - como sempre haveria de acontecer - deixei o guarda-chuva em casa.
No fim de semana vai fazer um mês que estou aqui e sinceramente esse mês voou, comparado aos meses que antecederam minha vinda pra cá. O estranho é que só agora consigo realmente raciocinar sobre tudo o que aconetceu nessa descida de rampa que foram esse últimos dois meses - um antes de eu vir e esse que eu já passei por aqui - e passar a entender um pouco melhor o impacto disso na minha vida. Acho que o post vai ser longo...
Em primeiro lugar vou falar da parte impessoal, do país que eu estou vivendo e da minha experiência profissional aqui. É muito interessante como você consegue ver muito melhor o tamanho de um buraco quando você sái dele... não que eu esteja chamando o Brasil de buraco, mas estou falando dos buracos que somos forçados a encarar todos os dias da nossa vida aí. E olhando de fora, com mais calma, fica mais simples de entender o porque desses buracos aparecerem.
Todo dia antes de dormir tenho procurado ler alguma coisa diferente, pra desligar a cabeça e aprender coisas novas. Me lembrei de uma entrevista com o Herbert Viana, dos Paralamas, aonde ele falava sobre o impacto que a leitura de Morte e Vida Severina, do João Cabral de Melo Neto, teve sobre ele quando leu essa obra depois de estar morando um tempo fora do Brasil, e decidi começar por ali... é incrível ver como "sobre"-vivemos...
"Somos muitos Severinos / iguais em tudo e na sina: / a de abrandar estas pedras /suando-se muito em cima, / a de tentar despertar / terra sempre mais extinta, / a de querer arrancar / alguns roçados da cinza..."
A sensação que tenho aqui é de que a vida é tão mais fácil, não no sentido de que você pode ser um "zé moleza", mas de que suas preocupações se tornam muito menores quando você faz parte de uma cadeia aonde todos cumprem sua porção com precisão. É muito mais fácil viver se você tem segurança, se você tem o que trabalhar e se você tem a certeza de ser respeitado por fazer suas coisas pelo caminho mais correto... é muito bom viver com perspectiva, perspectiva que infelizmente é tão difícil de ser ver na nossa terra.
Daí fiquei pensando na causa dessa falta de perspectiva que vemos ao nosso redor. Pensei na culpa dos políticos, pensei no tráfico de drogas, pensei nas roubalheiras que a gente vê todo dia... nada disso, por si só, me pareceu culpa do problema. Não que isso seja "café pequeno", mas sinto que isso é apenas o fim de uma cadeia, que começa na desestruturação da famíllia e no total desinteresse, de todos (desde os que a teriam como dever até os que deveriam tê-la como direito), pela Educação. Não só educação acadêmica, mas Educação como entidade, como fator modificador do mundo e da sociedade, e, principalmente, como guia para nossa alma. Muito do que aprendi foi dentro de casa, e, se soube lidar bem com a educação acadêmica que recebi, é porque minha base havia sido bem estruturada, é porque sempre tive meus olhos voltados para o que precisava ser visto, da maneira como precisava ser visto... e isso tendo muito orgulho em dizer que minha educação foi 100% pautada no ensino público, mas Ensino Público com letra maiúscula, do tempo em que as mães íam mesmo às famosas reuniões de fim de mês, na época em que os filhos tinham medo dos castigos dos pais. Na minha modesta opinião, se nos basearmos no conceito platônico de Educação, fica fácil entender o quanto que isso nos faz falta, e de onde vem a explicação para o caminho que nosso país tem levado...
"A Educação é, portanto, a arte que se propõe este fim, a conversão da alma, e que procura os meios mais fáceis e mais eficazes de operá-la; ela não consiste em dar a vista ao órgão da alma, pois que este já o possui; mas como ele está mal disposto e não olha para onde deveria, a educação se esforça por levá-lo à boa direção." Platão. A República. 2. ed. São Paulo: Difel, 1973, p. 111
E assim sigo tentando entender o que faz um país tão rico em tudo o que tem (o Brasil) ser tão diferente dos países chamados de "ricos"...
Indo agora pro lado pessoal, estou começando a interpretar a saudade e o vazio que fica de não ter quem eu preciso perto de mim (minha namorada, meus pais, meu irmão, meus amigos...). Sinto que o mais difícil foi exatamente o momento de partir, o momento aonde o ponto mais longe em nossa jornada é o exato ponto de onde estamos saindo. No momento em que eu entrei no carro para ir para Ribeirão pegar o avião, Araraquara passou a ser o lugar mais distante que conhecia, e que gostaria de estar... tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Pensei em escrever sobre isso, mas não achei nada que explicasse melhor o que senti do que o que vou postar à seguir.
Desde pequeno tenho muita admiração por um velejador brasileiro chamado Amyr Klink. Seus livros então são um caso à parte... o tipo de livro que faz você virar a noite para terminar logo, de tão gostosa que é a leitura. Noite passada peguei para ler "Parati entre dois pólos" - livro que recomendo e muito -, e lá achei uma passagem que, melhor do que tudo, explicava o que foi esse primeiro mês para mim (não é meu interesse piratear nada, masi uma vez, todos os méritos são do autor do livro, e eu só dei um CtrlC CtrlV direto do livro para não gastar tempo digitando...):



Engraçado como nossa vida às vezes parece um navio no mar.. engraçado e bonito, muito bonito!
Semana que vem tem mais. Sabadão viajo de novo, vou encontrar meus amigos em Copenhagen, visita ilustre, o chefe está chegando!
beijo e até lá!
Fui!
ps: valeu pelos comentários de todos! É muito bom saber que vocês estão me acompanhando!
No fim de semana vai fazer um mês que estou aqui e sinceramente esse mês voou, comparado aos meses que antecederam minha vinda pra cá. O estranho é que só agora consigo realmente raciocinar sobre tudo o que aconetceu nessa descida de rampa que foram esse últimos dois meses - um antes de eu vir e esse que eu já passei por aqui - e passar a entender um pouco melhor o impacto disso na minha vida. Acho que o post vai ser longo...
Em primeiro lugar vou falar da parte impessoal, do país que eu estou vivendo e da minha experiência profissional aqui. É muito interessante como você consegue ver muito melhor o tamanho de um buraco quando você sái dele... não que eu esteja chamando o Brasil de buraco, mas estou falando dos buracos que somos forçados a encarar todos os dias da nossa vida aí. E olhando de fora, com mais calma, fica mais simples de entender o porque desses buracos aparecerem.
Todo dia antes de dormir tenho procurado ler alguma coisa diferente, pra desligar a cabeça e aprender coisas novas. Me lembrei de uma entrevista com o Herbert Viana, dos Paralamas, aonde ele falava sobre o impacto que a leitura de Morte e Vida Severina, do João Cabral de Melo Neto, teve sobre ele quando leu essa obra depois de estar morando um tempo fora do Brasil, e decidi começar por ali... é incrível ver como "sobre"-vivemos...
"Somos muitos Severinos / iguais em tudo e na sina: / a de abrandar estas pedras /suando-se muito em cima, / a de tentar despertar / terra sempre mais extinta, / a de querer arrancar / alguns roçados da cinza..."
A sensação que tenho aqui é de que a vida é tão mais fácil, não no sentido de que você pode ser um "zé moleza", mas de que suas preocupações se tornam muito menores quando você faz parte de uma cadeia aonde todos cumprem sua porção com precisão. É muito mais fácil viver se você tem segurança, se você tem o que trabalhar e se você tem a certeza de ser respeitado por fazer suas coisas pelo caminho mais correto... é muito bom viver com perspectiva, perspectiva que infelizmente é tão difícil de ser ver na nossa terra.
Daí fiquei pensando na causa dessa falta de perspectiva que vemos ao nosso redor. Pensei na culpa dos políticos, pensei no tráfico de drogas, pensei nas roubalheiras que a gente vê todo dia... nada disso, por si só, me pareceu culpa do problema. Não que isso seja "café pequeno", mas sinto que isso é apenas o fim de uma cadeia, que começa na desestruturação da famíllia e no total desinteresse, de todos (desde os que a teriam como dever até os que deveriam tê-la como direito), pela Educação. Não só educação acadêmica, mas Educação como entidade, como fator modificador do mundo e da sociedade, e, principalmente, como guia para nossa alma. Muito do que aprendi foi dentro de casa, e, se soube lidar bem com a educação acadêmica que recebi, é porque minha base havia sido bem estruturada, é porque sempre tive meus olhos voltados para o que precisava ser visto, da maneira como precisava ser visto... e isso tendo muito orgulho em dizer que minha educação foi 100% pautada no ensino público, mas Ensino Público com letra maiúscula, do tempo em que as mães íam mesmo às famosas reuniões de fim de mês, na época em que os filhos tinham medo dos castigos dos pais. Na minha modesta opinião, se nos basearmos no conceito platônico de Educação, fica fácil entender o quanto que isso nos faz falta, e de onde vem a explicação para o caminho que nosso país tem levado...
"A Educação é, portanto, a arte que se propõe este fim, a conversão da alma, e que procura os meios mais fáceis e mais eficazes de operá-la; ela não consiste em dar a vista ao órgão da alma, pois que este já o possui; mas como ele está mal disposto e não olha para onde deveria, a educação se esforça por levá-lo à boa direção." Platão. A República. 2. ed. São Paulo: Difel, 1973, p. 111
E assim sigo tentando entender o que faz um país tão rico em tudo o que tem (o Brasil) ser tão diferente dos países chamados de "ricos"...
Indo agora pro lado pessoal, estou começando a interpretar a saudade e o vazio que fica de não ter quem eu preciso perto de mim (minha namorada, meus pais, meu irmão, meus amigos...). Sinto que o mais difícil foi exatamente o momento de partir, o momento aonde o ponto mais longe em nossa jornada é o exato ponto de onde estamos saindo. No momento em que eu entrei no carro para ir para Ribeirão pegar o avião, Araraquara passou a ser o lugar mais distante que conhecia, e que gostaria de estar... tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Pensei em escrever sobre isso, mas não achei nada que explicasse melhor o que senti do que o que vou postar à seguir.
Desde pequeno tenho muita admiração por um velejador brasileiro chamado Amyr Klink. Seus livros então são um caso à parte... o tipo de livro que faz você virar a noite para terminar logo, de tão gostosa que é a leitura. Noite passada peguei para ler "Parati entre dois pólos" - livro que recomendo e muito -, e lá achei uma passagem que, melhor do que tudo, explicava o que foi esse primeiro mês para mim (não é meu interesse piratear nada, masi uma vez, todos os méritos são do autor do livro, e eu só dei um CtrlC CtrlV direto do livro para não gastar tempo digitando...):




Semana que vem tem mais. Sabadão viajo de novo, vou encontrar meus amigos em Copenhagen, visita ilustre, o chefe está chegando!
beijo e até lá!
Fui!
ps: valeu pelos comentários de todos! É muito bom saber que vocês estão me acompanhando!
2 comentários:
Caro Navegante! Que bom que levou consigo uma bússola, um astrolábio e uma luneta.
A bussola é quem lhe deu um norte, seus queridos familiares.
O Astrolábio é quem lhe orienta pelas estrelas, os seus sonhos e objetivos.
A luneta, quem lhe dá a "terra à vista", que não lhe faz esquecer das suas origens.
Tenho orgulho de ti, meu amigo.
Rubens!
Seu texto, além de emocionante, deveria ser lido por muitos alunos e professores!
Se todos soubessem a falta que faz uma família presente na vida de um aluno e a importância de "orientar o foco do olhar", como você mesmo ressaltou, talvez não apenas nosso país, mas também o mundo, seria muito melhor!!!
Parabéns pelo texto inspirador!
Abraços!
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